2014
(Carlos Lopes)
Pacientes, os anjos me fizeram crer
Que dos mortos em vida
Pudesse eu me erguer
Chegaram a me ligar, acreditem
De celular
Sussurraram que “chegara a hora”
Será?, duvidei torcendo sem demora
Subindo a montanha vi que topo não havia
Que nem regresso haveria
“Sois vós, o nosso irmão”
Foi o que disseram
“O anjo da morte que mata a toda ilusão”
Logo eu, que me encontrava
Entre lapsos descontínuos
Sem saber como proceder
Desci de casa em passo reto, contínuo
Atravessei tonto, a faixa àquela hora
Durante a travessia
Que nem Caronte, a moeda queria
Vem o conhecido estranho que me olha
Ao afundar-se em meus olhos
Soube ele ter chegado a hora
Sobressaiu-lhe um desgosto profundo
Desejará ainda aproveitar o que lhe resta neste mundo?
A cada segundo, senti-lhe mais culpado
Nos olhos do consulente, o vi completamente desarmado
Sem poder falar, anunciei-lhe calado
É chegada a morte da ilusão
O fim do ser amado
Após a faixa me ter atravessado
Como punhal cravado em dor
Parei na esquina sozinho
E percebi que um silencioso calceteiro se dava por satisfeito
Por ter terminado o caminho
Para que o atravessasse
O seu amor
De direito