Estamos nos comunicando neste momento, através da tecnologia, a grande ferramenta mágica, pela qual trocamos as nossas ternuras. Mas cuidado que cavalo não desce escada: a mesma tecnologia que expande, aprisiona. Toda opção advém da nossa visão, de como vemos o mundo, de como nos vemos. Se usamos lentes rosa, tudo é rosa, se nossa intuição e percepção são parciais, parciais somos, só ouvimos o que queremos ouvir, construímos o mundo à nossa imagem e semelhança. A maior parte de nós, não quer viver sem óculos, acredita que é melhor enxergar o mundo através de lentes parciais. E lentes desfocam, iludem, como as da televisão, das fotos e dos filmes. Vemos o que é visível e achamos que basta, sem discernir. Sobre isso que estamos conversando agora, como melhorar nossas vidas, só poderia ser feito há décadas por papos pessoais, cartas e livros, mas hoje temos a internet , muito útil, mas uma arma de dois gumes. (Inclusive o tema da próxima coluna é sobre essa história de conversar sobre fatos místicos com quem te pede, mas não te escuta.)
I put my finger on you
Enquanto escrevo este texto, assisto a o filme The Queen sobre a morte da princesa Diana e como a Família Real inglesa, a princípio, se recusou a fazer parte do velório, do lamento público, até mesmo em função do protocolo. O Primeiro Ministro Tony Blair falou diretamente com a Rainha que 25% da população já não queria mais saber da realeza por causa dessa atitude. O povo simplesmente não entendeu: pensou com o coração e não com a razão, como Elizabeth II e os familiares. Mas o que é mais importante: razão ou coração? A razão consciente ou o coração fajuto? Seria Diana, uma oportunista, marqueteira e demagoga? Talvez, mas o povo a adorava, ela soube se promover e esse mundo, mais do que verdade adora a aparência, as palavras doces, os “bons atos”. Em um dos diálogos da película, Elizabeth se surpreende com a mudança dos costumes, desde o fim da Segunda Guerra. Tanto se assusta, que atende aos apelos do Primeiro Ministro para pessoalmente demonstrar alguma humanidade e passear em frente ao portão do Palácio de Kensington, para exibir a solidariedade real. Ao ler os cartões dos populares, postos em guirlandas e arranjos florais, com ofensas diretas à Monarquia, Elizabeth II caiu na real. “Eles não têm coração”, dizia um dos textos.
O que quero dizer com isso? Que as aparências enganam.
E como distinguir o que te serve para o bem, e o que te serve para o mal, sem que se saiba quem é quem?
A sincronicidade ajuda.
Se você é intrinsecamente uma pessoa boa (há divergências entre você, o Id e o Ego) em tese, a sua bondade pode aumentar, mas também pode aflorar uma parte indesejável da nossa personalidade: o demônio. A pressão e as facilidades da vida fazem isso muito bem: pressionar para que o inferno contido em sua alma, cresça e apareça.
Sincronicidade é coisa séria.
As sincronicidades se manifestam conversando em sua língua, elas te pegam de jeito. Se eu assisto TV, as sincronicidades surgem na telinha; caso você esteja andando na rua aparentemente “sem motivo”, elas te cercam para dizer algo, propor algo, mas a nossa confusão mental, muitas vezes, não nos permite ver exatamente o que é, o que querem dizer.
E até mesmo a “coincidência” te dá 3 opções: esquerda, não faz nada ou direita. Budisticamente, o caminho do meio é o melhor, mas simplesmente optar também é muito bom: melhor tomar uma decisão errada – se você, é claro, não consegue tomar a certa – , para que com um pouco de esforço e compreensão, possa cair na real e catar os pedaços, mas preparado para não errar mais e sabendo o por quê. “Agora eu sei – ou pelo menos, penso saber – o custo benefício da falha.”
Goethe
Acredito muito em datas na formação do caráter e karma. Um dia, descobri que o filósofo alemão Goethe nasceu no mesmo dia e mês que eu (ano não dá, né?) e recentemente “percebi” que conheci durante toda a vida, algumas pessoas que falam alemão e outros que são descendentes de judeus que fugiram da Alemanha nazista. Essas pessoas sempre cruzaram meu caminho e deixaram marcas, “boas e ruins” que tive que desenrolar. Todas me ensinaram muito e também me mostraram que para elas, o tempo para compreender a questão – se quiserem é claro -, é outro. Para algumas, falta pouco, para outras, talvez nunca… O mais estranho dessa ligação , é que me vi estranhamente pertencente à uma nova categoria kármica, a “alemã’ apesar de ser muito brasileiro e não ter vínculos com a Alemanha. Essa semana, conversando sobre isso com um amigo de priscas eras, que não reside no Rio, ele também me confidenciou que, em meditação, descobriu que era isso o que nos ligava: a Alemanha, apesar de aparentemente nenhum de nós ter nada a ver com qualquer “alemanização”. Há alguns meses, um velho amigo que reencontrei há um ou dois anos, me disse que foi à Europa seguir os passos do filósofo alemão Nietzsche.
Nietzche
O círculo de pessoas a minha volta é limitado, por mil motivos, o mais importante deles para me centrar e ter as rédeas do meu destino em mãos. E se nesse ambiente, com poucas pessoas, as pistas te levam à mesma direção, a conclusão só pode ser: preste atenção. Só um cego não dá a devida atenção às evidências. E quem são os cegos? Nós, ninguém mais.
Essa história alemã prova que há encarnação? Prova que nos ligamos inconscientemente por fios misteriosos? Há uma boa evidência de que existe algo muito importante envolvido nessa história.
Uma dúvida dessas, sobre rastrear ou não os elos perdidos através dos séculos, pode e deve ser feito com a ferramenta da justa meditação. Mas o mundo nos cobra deveres, favores e contas a pagar. Parece que nunca há tempo para meditar, para ficarmos sozinhos, mas é bom arrumar um tempo e para isso, precisamos abrir mão de algo. Não dá para ter tudo. Mas dá para almejar e trabalhar pela completude, dividido.
Treino meditação do meu jeito desde os anos 90, pois na maior parte do meu tempo, simplesmente não consigo parar e meditar. Tive que criar uma meditação própria: caminhando, curtindo o movimento lento dos passos, vendo um passarinho dar seus saltinhos, as garças perto de casa, os cães no parque, a luz do sol refratada, o som da água batendo nas rochas e prestando muita atenção nos sons que pipocam nas ruas. Cada novo dia e experiência são únicos. Dando esse necessário tempo para mim, somente agora após 20 anos, comecei a entender como funciona o processo, como se faz e através dessa escolha, as sincronicidades se tornaram muito fortes. Uma coisa puxa a outra. O que ocorreu é que minhas ‘lentes’ mudaram juntamente com a percepção, então me sinto em um novo corpo, como se eu não fosse o eu anterior e isso te dá uma serenidade estranhamente bonita, em um ambiente lúdico e renovador.
Revolução egípcia
Assisti na TV a um “minúsculo” detalhe sobre a revolução popular ocorrida no Egito e me surpreendi. Tive certeza de que essa “revolução” é da importância de um 11 de setembro, porque ocorreram sincronicidades muito significativas entre esse que vos escreve e os fatos egípcios. De início, tendi a questionar, mas logo em seguida, outro fato, através da TV, reconectou-me a um fato que me ligou a outro e a outro. Ficou evidente que se tratava de algo muito grande, que envolve povos, nações e indivíduos, do micro ao macro, do pouco ao tudo, do átomo às galáxias.
Tutankamon
Me perguntei (intelectualmente e racionalmente, digo): “Como pode um fato local ou mundial, histórico, estar intimamente conectado a você, de uma maneira que não se pode refutar?” O que isso quer dizer? Que tudo já estava escrito? Que as coisas boas e ruins que acontecem contigo, são escolhas suas e do universo?
No “impulso”, você pode ficar obcecado pelas respostas, pegar um avião (se tiver dinheiro) e ir para a Alemanha ou para o Egito, encontrar tudo ou não achar nada. (Fui compelido a fazer isso, por fatores externos favoráveis mesclados à minha vontade e ancestralidade, e fui para Portugal, como já contei aqui no blog, mas apesar de ter sido uma experiência incrivelmente forte, demorei a me tocar de várias coisas.) Muitas respostas que encontro são mais sobre o passado do que sobre o presente. Você acha os traços, os rastros, mas ainda tem que entender o que os sinais querem te dizer. Me refiro é claro, aos passos que ainda não foram dados, pois só existe o presente, não existe futuro. Tudo bem que quânticamente, passado, presente e futuro são uma coisa só, uma linha contínua, mas não dá para perder tempo pensando como será. Melhor resolver a questão agora, para que o futuro seja outro. Para essa tarefa, temos um grande aliado, um mestre pessoal ao nosso alcançe: a percepção, caso é claro, que ela te conduza à opções que abram as portas para bons caminhos. E o nosso maior inimigo é a cegueira que o Ego nos oferta, mas esse é o caminho dos pés descalços sobre vidro: pode ser feito sem dor ou não ser feito. Se as escolhas continuarem a te conduzir para os mesmos becos ou ruas sem saída, para as mesmas situações, a escolha é exclusivamente sua, por cegueira ou não. “Mas eu estou tão bem, por que mudar?”. Então, você é que sabe.
Aprisionado
Enfim… Essa é a busca, essa é a hora.
Agora sinto que a minha busca inicia uma nova fase. E a sua?
A busca pode terminar em algum ponto sim, mas nunca o aprendizado.
O amor é a resposta. Ele é uma das armas mais poderosas durante a caminhada.